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sexta-feira, 14 de março de 2008



Este é Dr. Leocádio José Correia
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160 anos

Médico de Homens e de Almas


Era o ano de 1.848, na bucólica Paranaguá, quando por volta das 22h30 da noite de 16 de fevereiro, noite cálida de verão, no solar dos Correias na Rua da Misericórdia, ouve-se o vagido de um recém-nascido, 3º filho do comerciante Francisco José Correia e de sua esposa Gertrudes Pereira Correia. Se fosse homem, já havia decidido o casal, chamar-se-ia Leocádio, Leocádio José Correia. E, assim foi. Estava encarnado entre nós um espírito de escol que se devotaria ao bem, por toda sua existência de nobre cavalheiro.

Naqueles tempos, Paranaguá era a cidadezinha mais importante da 5a. Comarca de São Paulo.

Na verdade, era o berço da civilização paranaense, pois foi ali, que em 29 de julho de l.648, Gabriel de Lara, fundara a Comarca de Paranaguá, sucedendo a Vila de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá. Àquele tempo, a vida na pequena cidade, era muito intensa, pois lá estava o Porto do gato, depois d’água, (hoje, D. Pedro II) que era a porta de entrada e saída do Paraná, visto que na ausência de estradas, tudo chegava e saia pelo mar. Ah !!! Como eram límpidas aquelas águas.

O bando de crianças da Rua da Misericórdia, daqueles tempos, era muito numeroso, pois ali estavam além de Leocádio, seu irmão Manoel, seu primo Ildefonso, sua irmã Maria José (nhá Coca, que casou com o Ildefonso, depois Baronesa do Cerro Azul) José Cleto da Silva, e o Juca. Os locais prediletos para brincadeiras: o Rio Itiberê. A Fontinha, o pátio do Colégio Jesuíta, o campo grande, o largo de Nhá Dodó, o pátio da Igreja Matriz, A prainha em frente ao Colégio Jesuíta.

Assim foi a infância de Leocádio em Paranaguá, um paraíso infantil, das águas límpidas do Itiberê e de Sol resplandecente.

Todavia, ainda muito cedo com 10 anos de idade, após os estudos das primeiras letras, Leocádio iria ingressar no Seminário menor diocesano de São Paulo, pois desejava ardentemente, face seu coração piedoso, ser sacerdote católico, para alegria de sua família, todos fervorosos católicos. Nos quatro anos que se seguiram, duas vezes por ano, Leocádio vinha a Paranaguá para passar suas férias. Não tardou, e Leocádio conclui seus estudos, e deve agora dirigir-se ao Seminário Maior episcopal de São Clemente, em São Cristovão, no Rio de Janeiro, para continuar sua formação, onde ao final, prestaria seus votos para o sacerdócio. Leocádio renúncia aos votos. Férias em Paranaguá agora, seria uma vez por ano.

Resolvera que iria estudar Medicina, na Escola Nacional de Medicina no Rio de Janeiro. Afinal, não era a Medicina também um sacerdócio? Como médico seria também um sacerdote devotado ao Bem dos semelhantes.

Então, naquele ano de 1.868, Leocádio retorna ao Rio de Janeiro, para ingresso na Faculdade Nacional de Medicina. Tempos difíceis!!! Embora o pai o ajudasse, Leocádio decide trabalhar para custear seus estudos. Vai lecionar francês, inglês, para as moças da alta sociedade carioca, pois naqueles tempos era moda as moças da alta sociedade estudarem música, francês e inglês.

Logo, forma um grupo numeroso de alunas, pois Leocádio era de uma simpatia invulgar. Não ganhava muito, mas o ajudava bastante e havia muito tempo , suficiente para estudar a sua Medicina. Foram seis anos de muitos estudos, muita devoção, muito trabalho, mas todas aquelas lutas seriam compensadas; afinal, o tão sonhado diploma de médico, e o tão esperado anel de grau com vistosa esmeralda, que ele depois, raramente usaria. Chances para ficar na Corte não lhes faltaram, o Ilustre catedrático o médico Torres Homem, médico da família Imperial, seu professor, muito insistiu para que Leocádio viesse a clinicar no Rio de Janeiro. Não podia ficar. Leocádio já havia decidido dedicar todo seu conhecimento ao povo de Paranaguá, ficaria ao lado de sua família, dos seus amigos e do povo necessitado. Iria constituir família casando-se com sua prima Carmela Cysneiro Correia, filha de sua tia, irmã de sua mãe, Dona Leocádia Pereira de Lima. Como Leocádio era homem de posses, cobrava dos clientes ricos para atender aos pobres, graciosamente.

Em pouco tempo, o nome do médico Dr. Leocádio, tornou-se o nome mais conhecido de Paranaguá, Antonina, Morretes, Guaratuba, e de todo o Litoral, tanto era sua dedicação aos pobres, comovido com a pobreza, que em pouco tempo, tornou-se uma lenda viva. Ora, um tal prestígio não passou desapercebido pelos primos do Partido Conservador, Ildefonso, seu cunhado, (depois Barão de Cerro Azul) e Euphrasio Correia, que queriam vê-lo Deputado Provincial. É claro que Leocádio rejeitou a idéia, nunca tinha lhe passado pela cabeça ser político. Os primos garantiram que fariam a campanha dele, e que ele não precisava fazer nada para ser eleito, seu nome e seu prestígio eram o suficiente. E foi assim que Leocádio elegeu-se deputado provincial sem pedir voto a ninguém. Em Paranaguá Leocádio era o centro da vida social, fundou o Clube Literário,onde introduziu as soirées dançante, ensinava francês de graça à noite para a juventude, ensaiava alunos para o teatro, e, era o maior médico da região. Leocádio era esfuziante de vida, tinha uma energia e uma simpatia que encantava a todos. Dedicava-se à Santa Casa de Misericórdia, onde fazia cirurgias. Leocádio era, em Paranaguá, uma verdadeira instituição social, pai devotado, marido extremado. Como um homem desses não seria amado pelo povo?

Pois, em que pese tudo isso, Leocádio também teve inimigos declarados , mais por ciúme e inveja, do que por outra coisa, é que Leocádio, embora fosse abolicionista convicto, não era republicano.

Leocádio foi sempre um homem extremamente religioso, católico fervoroso a vida inteira. Só depois de sua morte é que suas intervenções espirituais ganham notoriedade, e o consagram como espírito tutelar de nossa gente.

O “Dr. Leocádio” deixa o mundo físico, vindo a desencarnar em 18 de maio de 1886, pouco depois das 19h vivera portanto, 38 anos e alguns meses. Seu sepultamento foi o mais concorrido que se viu em Paranaguá, nenhum outro o superou até hoje.

Dona Cidinha e seu hospital