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domingo, 21 de setembro de 2014

A carta do Dr. Inácio para a mãe da menina com câncer

Minha filha, a sua carta de mãe me comoveu. Senti vontade de chorar com você, ao lê-la, relatando o drama da filhinha de 8 anos vitimada pela leucemia, após uma luta que se arrastou porvinte e quatro meses, inclusive com um transplante de medula malsucedido.

Você me fala de seu anjo de cabelos encaracolados, ficando o tempo todo resignada, ante os agressivos tratamentos quimioterápicos que, cada vez mais, a deixavam abatida e desfigurada.

Em suas palavras, você me solicita: - “Dr. Inácio, encontre-a para mim e cuide dela...” Acredite, o seu pedido soou como uma ordem ao meu coração. Já estou providenciando localizá-la, para transmitir-lhe as suas notícias, todavia não pense que, deste Outro lado, existam crianças abandonadas, qual, infelizmente, acontece na Terra. Neste sentido, os nossos serviços são muito mais perfeitos que os dos homens encarnados, que, de maneira geral, na infância desvalida, relegam o próprio futuro ao descaso.

Se, por exemplo, a sua filhinha desencarnada não estiver sob a tutela de familiares que a precederam na viagem de volta, estará aos cuidados de uma família que, de imediato, a terá adotado, protegendo-a, em nome de Deus, para você, até que, um dia, o reencontro lhes seja possível.

Não chore! Obterei as informações que você deseja e, mesmo que não possa repassá-las em detalhes ao seu coração, devido a dificuldades técnicas comuns na tarefa do chamado intercâmbio mediúnico, você não ficará sem o conforto da fé na imortalidade.

Se tudo desaparecesse no Universo, as mães e as crianças, além dos gatos, não desapareceriam nunca! O Amor sobrevive a qualquer tipo de destruição. A morte é uma ilusão da qual precisamos nos desfazer de uma vez por todas.

Você, ainda, me pergunta o que seu anjinho terá feito para merecer tão triste provação... Reflita: Deus não é injusto! – “A minha filha, Doutor – argumenta -, uma flor que sequer chegou a desabrochar, fenecendo a na própria haste...” Em cada existência, o espírito vivencia as experiências que mais necessita ao seu progresso. Não há, entre uma vida e outra, solução de continuidade, como não existem hiatos na Criação Divina. Em vidas pregressas, todos já nos equivocamos muito, acumulando amarguras e decepções. Os nossos erros, quando extrapolam, se nos fixam o corpo espiritual, e conseqüentemente, se refletem no corpo de carne, que, por assim dizer, é a parte mais externa de nós mesmos. A doença é processo de cura no espírito!

Outra coisa: em tudo que lhe aconteceu, você tem à sua disposição excelente material para concluir que, de fato, a Vida é bem mais do que os homens comumente imaginam. Que sentido, por exemplo, ela teria para você e sua filhinha, ante a felicidade que parece reservar a outras mães junto aos rebentos amados? De que critérios ela se utilizaria para conceder a uns o que nega a outros? Estaríamos à mercê do acaso? Todas estas questões, no entanto, esbarram na ordem que impera na Criação Divina, contestando a teoria do caso das teses materialistas. O Universo é uma Obra de Inteligência e de Amor! Deus a nada e a ninguém privilegia. As oportunidades que, em relação aos outros, nos são aparentemente negadas, são aquelas mesmas que malbaratamos e aquelas de que, sem dúvida, voltaremos a desfrutar.

Está escrito em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no capítulo 9, que “a dor é uma bênção que Deus envia a seus eleitos...” Somente pela visão espírita, o homem será capaz de entender o sofrimento na condição de bênção. Não foi por outro m
otivo que Jesus bem-aventurou os aflitos! Não me encontro entre os apologistas da dor – quando piorréia generalizada começou a atormentar muito, fui ao dentista e mandei que todos os meus dentes fossem extraídos; coloquei duas “chapas”, ou seja, duas dentaduras, e... pronto. No entanto, devo reconhecer que quem não sofre, ainda que seja um tiquinho só, não cresce! É neste sentido que a dor é uma bênção e que a aflição é boa. A dor retempera o aço que somos, e o amor dá os retoques finais à obra-prima!

Espero que você esteja me compreendendo. Coloco-me em seu lugar de mãe e, apenas de admitir um filho meu desencarnando antes de mim, quase vou à loucura... Se somente de pensar na hipótese me transtorno, imagine você, minha irmã, na experiência real da mais doída de todas as saudades!

Conheço mães deste Outro Lado que vivem completamente desassossegadas pelos filhos que deixaram no mundo. Quando não podem, por si mesmas, ir e vir de iniciativa própria à superfície do Orbe, vivem procurando os nossos serviços de informação, com o intuito de obterem notícias daqueles que parecem ter sido formados de um pedaço do seu coração. As mães não esquecem nunca! Se, na reencarnação, não houvesse a bênção do olvido temporário, as mães haveriam de querer ser sempre mães dos mesmos filhos... Seria um problemão para Deus, concorda?

Mas voltemos ao assunto central desta carta, que espero possa chegar às suas mãos. Não se preocupe, minha irmã. Farei o que estiver ao meu alcance para encontrar a sua menina. Ela será, com a sua permissão e a dos verdadeiros avós, é claro, a minha primeira neta adotiva. Peço aos seus pais e aos pais de seu marido para não ficarem com ciúmes.

Eu sempre estive dividido entre os meus pacientes no Sanatório e as crianças no Lar Espírita, que, com um grupo de amigos, fundamos em Uberaba – um Lar que só acolhia meninas, que eu gostava de ver sempre bem penteadas e de fitinhas amarradas aos cabelos! Que festas, meu Deus, elas faziam para mim quando, escapulindo do Sanatório para respirar, eu as visitava, apertando as bochechas rosadas de uma e de outra!

Portanto, fique tranqüila e, enquanto espera pelos Desígnios Divinos, não sossegue a sua capacidade de amar a outras crianças, principalmente àquelas que foram enjeitadas pelos seus genitores biológicos. É possível que possa detectá-las no primeiro semáforo, sujas, desnutridas e maltrapilhas, estendendo a pequena mão à indiferença dos que passam, incapazes sequer de levantar o vidro do carro para uma palavra de carinho... Meu Deus, quanto carma, coletivamente, a Humanidade está acumulando para si mesma!

Vá, minha irmã, ainda hoje se possível, a uma creche ou a um orfanato, em nome de sua filhinha, que tanto amor continua recebendo de você, levar um pouco de amor aos garotos de futuro incerto... faça pelos filhos sem pais no mundo o que os pais sem filhos deste Outro Lado haverão de fazer pela sua pequena Thaís!

Perdoe-me se não pude lhe responder segundo as suas expectativas. Para falar de igual para igual a uma mãe sofredora, penso que só outro coração de mãe sofredora, e eu – pobre de mim! – nem as alegrias da paternidade pude conhecer.

Dr. Inácio Ferreira (Espírito), pelo médium Carlos Baccelli
Do livro "Cartas do Dr. Inácio aos Espíritas"
Editora LEEPP - Uberaba, Minas Gerais 
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