Poderia, se os homens
as compreendessem bem e tivessem vontade de praticá-las; então seriam
suficientes. Mas a sociedade tem as suas exigências e precisa de leis
particulares.
(O Livro dos Espíritos,
questão 794)
Esclarecemos, de
início, que a nossa própria visão – a dos espíritos que, presentemente, nos
encontramos fora do corpo – é limitada à condição espiritual que alcançamos.
Não temos a pretensão
da verdade integral. Qual ocorre à maioria dos espíritos, todos estamos ainda
sujeitos à Lei do Progresso.
Entendamos, no entanto,
que mesmo as Leis Divinas reveladas aso homens adaptam-se à sua capacidade de
assimilá-las.
No próprio Decálogo, o
primeiro dos dez mandamentos foi, em parte, específico para o povo judeu: “Eu
sou o senhor vosso Deus, que vos tirei do Egito, da casa da servidão”...
O terceiro mandamento, “Lembrai-vos
de santificar o dia de sábado”, hoje já não deve ter aplicação literal, posto
que todos os dias devem ser igualmente santificados pelo trabalho. Jesus esclareceu
que o sábado havia sido feito em função do homem, e não o homem em função do
sábado.
As Leis Divinas, as
mesmas para todo o Universo, são, inegavelmente, imutáveis em sua essência;
todavia, repetimos, adaptadas à condição espiritual de cada orbe e ao grupo de
espíritos a que se dirigem.
A tendência natural é
que as leis humanas evoluam no sentido das Leis Divinas, com elas se
identificando. Vejamos, no entanto, que com referência ao Decálogo, foram as Leis
Divinas que procuraram adequar-se à condição dos homens da época.
Séculos depois, Jesus viria
ampliar-lhes a concepção, asseverando sempre: “Aprendestes o que foi dito... eu
porém, vos digo...”
Os homens, espíritos
indisciplinados, ainda carecem de leis que os constranjam ao respeito aos
semelhantes – base de toda instituição social.
É natural, pois, que
algumas leis, como por exemplo, a pena de morte, ainda subsista em alguns
países e, em outros que já a haviam banido, cogite-se de fazê-la voltar, até
ser extinta de vez.
Sem que os valores
morais da criatura se fixem, adquirindo estabilidade, os seus valores externos
estarão sujeitos a variações.
Estando em transição,
subsistem , na Humanidade, indiscutíveis traços de primitivismo de que ela,
pouco a pouco, encontra-se emergindo.
Recordemo-nos de que
não faz muito tempo, a Teologia discutia, em intermináveis concílios, se a
mulher era ou não dotada de alma.
Aristóteles, um dos
principais filósofos gregos, chegou a dizer que “a Natureza só faz mulheres
quando não pode fazer homens. A mulher é, portanto, um ser inferior”.
Até a vinda de Jesus à
terra, a mulher era aviltada e tida na condição de simples alimária pela
sociedade machista da época. Escolhendo aparecer, redivivo, em primeiro lugar,
a Maria de Magdala, em detrimento dos Apóstolos, o Cristo teve a intenção de
dar à mulher um papel de relevância no Cristianismo, vencendo, neste sentido, a
resistência dos primitivos cristãos, inclusive a de Paulo de Tarso, que chegou
a escrever em sua primeira Carta aos Coríntios, capítulo 14, versículo 34: “As mulheres
estejam caladas nas igrejas, porque não lhe é permitido falar...”.
Portanto, há ainda a longa estrada a ser percorrida
pela legislação humana, par que, finalmente, ela venha a ser um verdadeiro
reflexo da Legislação Divina, que imperará na consciência e no coração do
homem.
Pelo Espírito Irmão José, mediunidade de Carlos Baccelli
Da obra "Segundo o Livro dos Espíritos", Editora Didier, primeira edição, capítulo 48, novembro de 2009