Total de visualizações de página

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Suicídio - A ponta de um iceberg



Jornalista Luiz Garcia

No mundo, quase um milhão de pessoas cometem suicídio anualmente. Mentes de jovens e adultos engolidas por um turbilhão de sentimentos que as levam à idéia infeliz de matarem suas agonias aniquilando o próprio corpo. Enganam-se profundamente ao julgarem o cérebro a sede dos pensamentos que os atormentam, ou então a menos pior das alternativas de uma situação desesperadora. Tomam uma opção que não lhes cabia e dão início a um martírio maior, de conseqüências muito mais dramáticas.

A Doutrina Espírita conhece muito especialmente os efeitos de um desencarne em tais circunstâncias, cujos relatos são abundantes e estarrecedores. Memórias de um Suicida, de Yvone Pereira, é leitura obrigatória para quem deseja prevenir-se contra tais idéias. Em todos os casos, os depoimentos nos conduzem a uma conclusão invariável: cometer suicídio só agrava as dores e aprofunda as perdas.

Naturalmente, o Mundo Espiritual tem buscado sensibilizar o homem sobre o desatino de optar pela anulação da vida. O Movimento Espírita, em especial, tem percebido o esforço da Espiritualidade nesse sentido e enfatizado o assunto nas palestras públicas nos centros espíritas. O esforço centra-se no combate aos quadros depressivos, cujo agravamento conduz, em sua situação mais extrema, ao suicídio.

Seja por medo da morte, do desconhecido, por instinto de conservação, ou ainda porque pressentem uma vida pós-morte, a maioria dos depressivos prefere uma modalidade especial de suicídio: o inconsciente. A palavra é ainda imprecisa, uma vez que o suicida inconsciente tem noção do que faz, mas não faz questão de atinar-se para as implicações morais de suas ações. Drogam-se, excedem-se nos venenos lícitos, corroem-se em idéias rancorosas, abusam dos prazeres materiais; fazem isso e se espantam quando, mais tarde desencarnados, são acusados de suicidas. A história do Espírito André Luiz exemplifica essa triste trajetória.

No centro de toda a tragédia depressiva, uma insatisfação tão profunda quanto a distância entre o homem e sua natureza primordial. Envolvido pelas ilusões do mundo, tão absorvido pelas preocupações e dificuldades materiais, o homem se perde de si mesmo. Não se satisfaz com o essencial para sua vida física, porque o espírito está hipnotizado por idéias de ter e poder. No cerne desta busca infantil, a necessidade de o homem ser amado. Nada de errado com tal desejo; equivocada é a estratégia.

Jovens, em especial, tragados pela histeria do ter, pelo vazio que uma vida de facilidades proporciona, entregam-se a uma rotina de sucessivas frustrações, porque ora não conseguem ter o que querem, ora não extraem do que têm a satisfação que só uma existência fundamentada em valores eternos pode oferecer.


Saídas

Sendo a depressão o mal do século e o suicídio o desfecho trágico de muitos casos, a humanidade precisa urgentemente difundir terapias preventivas. O Espiritismo, que se dissemina mundo afora por caminhos outros que o do próprio Movimento Espírita, tem se convertido numa poderosa força de valorização da vida. Primeiro, porque exibe o percurso doloroso da alma que opta pela morte voluntária. Segundo, porque enfatiza o aspecto imortal do ser humano, a multiplicidade de suas existências e do propósito de toda dor e ranger de dentes. E, por fim, assinala o destino inevitável de todo espírito: a felicidade.

O Espiritismo vacina a alma contra tendências suicidas, mas a verdade é que, como sempre lembra Olenyr Teixeira, nem todos que chegam até o Espiritismo permitem que o Espiritismo chegue até eles. A Doutrina Espírita “salvará” a humanidade quando a humanidade desejá-lo. As mortes antecipadas de milhões de pessoas mundo afora são sintoma claro de que o mundo material não encerra em si a razão da existência humana. São, na verdade, a ponta de um iceberg, um número que exterioriza a angústia que adoece muitos outros milhões de almas, ainda presas à sua visão limitada da vida.



Dez conselhos para evitar a depressão:
1. Não reclame demais: a reclamação só serve para tranqüilizar o derrotado, o infeliz e o acomodado, transferindo responsabilidades. É um vício que acinzenta os dias.

2. Não espere muito dos outros: não tenha a expectativa de que alguém nasceu nesta vida para fazê-lo feliz. É uma tarefa pessoal e intransferível.

3. Evite decisões nos primeiros 30 segundos depois de uma situação tensa: são nesses momentos que cometemos os piores erros da vida.

4. Encontre grandeza na sua pequenez: você também tem talentos e virtudes. Ver apenas defeitos é sintoma de miopia espiritual.

5. Tome as decisões que julgue necessárias: sem disciplina, perdemos as rédeas da vida. Não seja escravo da preguiça e da irresponsabilidade.

6. Alimente a esperança: a vida que temos é uma resposta ao que somos. Irradiar pensamentos otimistas altera a qualidade dos dias.

7. Não seja controlado pelo fracasso: trabalhe. Para um espírito perdulário numa existência passada, resignar-se com uma vida de privações é o que pode fazê-lo um vitorioso na encarnação atual.

8. Olhe-se com os próprios olhos: quem não se conhece, fica entregue ao julgamento alheio e, portanto, sua auto-estima irá sofrer a cada olhar censurador e depreciativo.

9. Lembre-se da força da oração: Deus concentra toda a razão de nossa existência e estar em unidade com ele resgata o sentido de nossa vida.

10. Pergunte-se diariamente sobre o que é a felicidade: lembre que a única forma de ser feliz é garantir permanente paz de espírito.



Publicado originalmente no jornal Espaço Espírita, de Barra Velha, Santa Catarina
Site www.cejn.org.br
Twitter: @juvanneto

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Prece Mediúnica em Trovas



Pelo médium Geraldinho Lemos Neto


Vem, Jesus, divino amigo!
Amado Mestre e Senhor,
Vem ser o nosso abrigo
Com a bênção de seu amor.


A lição de hoje é tão certa
Para a nossa reflexão,
Deixando nova porta aberta
À mais funda compreensão.


Cólera é raiva escondida
No pavio da ilusão,
A confusão mais sentida
Em destrambelhada emoção.


Ajuda-nos, mestre Jesus,
A apagar esta chama
Com a paciência da cruz,
Na paz de quem ora e ama.


Afasta-nos deste incêndio
A consumir-nos por dentro.
Tira de nós o vilipêndio
Das labaredas adentro.


Que em todo e qualquer lugar,
Sejamos contigo, sem demora,
Aprendendo a nos amar
Dia a dia, hora por hora,


Fazendo-nos sempre criança,
Abrigando no imo do ser
A mais bela esperança
Em novo amanhecer.


Que neste pouso abençoado,
Nesta casa de oração,
O teu nome seja lembrado
Nas luzes da imensidão!


Assim seja!


Jacks Aboab



Trovas psicografadas por Geraldo Lemos Neto, em reunião pública na noite de 7 de junho de 2008, no Grupo Espírita Esperança, Santa Luzia | MG.

terça-feira, 22 de março de 2011

Recado de Bezerra de Menezes e Ermance Dufaux aos Amigos de Jornada




Eis a nossa grande empreitada nos estágios espirituais em que nos encontramos: alfabetizar o coração nas trilhas do bem definitivo, efetivar a aprendizagem da religião cósmica do Amor, plenificar a existência renovando o modo de sentir.

Indagamos oportunamente o sábio Bezerra de Menezes sobre qual seria o maior drama vivido pelos espíritas ao deixar a vida corporal, e dele recebemos a seguinte gema de sabedoria:

"Filha, os dramas espirituais são resultados da semeadura terrena, obrigando o lavrador da vida a colher os frutos do que plantou, conforme a lei dos méritos.

Assim sendo, o maior drama daqueles que se internam na "Enfermaria do Espiritismo" não será na infeliz colheita de sofrimento aquí na vida estrafísica, mas sim no dia a dia da experiência terrena quando recusam-se, na condição de doentes, a ingerir o remédio da renovação interior.

Conscientes do que existe para além da morte, deveriam submeter-se a urgente metamorfose afetiva, acionando os recursos da educação com vontade firme e muita oração.

O esclarecimento, mesmo constituindo luz e lenitivo, por sí só, não basta ao sublime tentame." "Os dramas do além são consequências. O verdadeiro drama está em conhecer e nada fazer para melhorar-se."

-E arrematou o venerável apóstulo do bem:

"Parece um contra-senso! Enquanto o homem comum colhe amargos frutos na vida espiritual pelos desconhecimentos, os espíritas, quase sem exceções, experimentam sofrida amargura por muito conhecer!..."


Ermance Dufaux, pelo médium Wanderley Soares de Oliveira

Ermance Dufaux e as perdas



“Mas ajuntai tesouros no céu...” - Mateus, 6:20

Mesmo guardando prudência e moderação, serás convocado ao aprendizado do desapego.

Na condição de usufrutuário passageiro das bênçãos que te felicitam, não obterás certidão de posse sobre tais recursos.

Não existem perdas reais no universo, porque nada pertence a ninguém.

Quando a vida te convidar às necessárias renovações, ainda que sofras a dolorosa cirurgia do desprendimento, mantém-te no controle de ti mesmo.

Hoje é o filho que muda, amanhã um vínculo que parte, depois é um bem surrupiado, mais além um emprego que é retirado.

Não são perdas, são mudanças.

Guarda calma e equilíbrio para que entendas o “recado” de Deus a ti endereçado nas alterações que a existência te conclama.

As dores das perdas são preciosos receituários contra as ilusões que carregamos.


Ermance Dufaux
Mensagem psicografada pelo médium Wanderley Soares de Oliveira, em 17 de novembro 2007, na SED – Sociedade Espírita Ermance Dufaux, em Belo Horizonte, Minas Gerais.

domingo, 6 de março de 2011

A figura de comunicação de Chico Xavier


Arthur da Távola

Independentemente de qualquer posição pessoal, crença ou convicção, a figura de comunicação de Francisco Cândido Xavier percorre décadas da vida brasileira operando um fenômeno (refiro-me à comunicação terrena mesmo) de validade única, peculiar, originalíssima. Não vou, portanto, por falta de autoridade para tal, analisa-lo do ângulo religioso e, sim, as relações de sua figura de comunicação com o público.
Com todos os significantes necessários a já ter desaparecido ou ter-se isolado como m fenômeno passageiro, a figura de comunicação de Francisco Cândido Xavier, no entanto, ganha um significado profundo, duradouro, acima e além de paixões religiosas, doutrinas cientificas ou interpretações metafísicas.
A inexistência de um tipo físico favorecedor, funciona como outro curioso paradoxo a emergir da figura de comunicação de Chico Xavier.
Aquele homem de fala mansa, peruca, acentuado estrabismo, pessoa de humildade e tolerância, não configura o tipo físico idealizado do líder religioso, do chefe de seita, do místico impressionante.
A clássica barba dos místicos, ou a cabeleira descuidada, ou o olhar penetrante e agudo dos líderes, inexistem no visual de Chico Xavier.
Acrescente-se a inexistência, em seu modo de vestir, de qualquer originalidade ou definição de estilo próprio, ainda que contestador dos estilos formais e burgueses.
Não tem, portanto, Chico Xavier, nos aspectos externos e formais de sua figura de comunicação, nenhum dos elementos habitualmente consagrados como funcionais, ou impressionantes dos aspectos externos do grande público, elementos de comunicação incorporados consciente ou inconscientemente por figuras importantes nas religiões.
Até a figura do Papa, líder de uma comunidade religiosa, é envolta em pompa e festa, estratégia visual destinada à maior pregnância de sua mensagem e à definição de sua posição como símbolo.
Nem mesmo a mais decidida modéstia e humildade pessoal de vários papas são suficientes para que a figura papal se desvista da pompa e simbologia relativas ao reinado que representa.
Até nas religiões orientais, menos pomposas, as figuras líderes são cercadas da visão carismática do líder.
Francisco Cândido Xavier, porém, representa uma espécie de antítese vitoriosa da figura carismática.
Não tem, do ponto de vista externo ou visual, nenhum elemento característico.
Até ao contrário.
Pessoalmente, é anticarisma.
Funciona como símbolo de negação de qualquer pompa ou formalidade, um retorno talvez à pureza primitiva dos movimentos religiosos.
E, no entanto, emerge da figura dele uma das mais poderosas forças de identificação da vida brasileira.
Ele é uma espécie de líder desvalido dos desvalidos, dos carentes, dos sofredores, dos não onipotentes, dos despretensiosos, dos modestos, dos dispostos a perder para ganhar.
Curiosamente, tal posição é conquistada naturalmente e sem qualquer traço político direto de tomada de posição ao lado dos fracos, num século em que a revolução social aparece como a tônica e como a grande aglutinadora dos movimentos humanos, inclusive os religiosos.
Sem qualquer formulação política, sem qualquer mensagem diretamente relacionada com a exploração do homem, sem qualquer revolta direta e institucionalizada contra a miséria ou a injustiça, Francisco Cândido Xavier emerge com a força do perdão, da tolerância, da fraternidade real, da fraqueza forte da fé, da humildade e do despojamento erigidos como regra de vida, como trabalho efetivo da caridade; da não violência em qualquer de suas manifestações, mesmo as disfarçadas em poder, glória, sincretismo, hermetismo, iniciação, poder temporal ou promessa de Vida Eterna.
A figura de comunicação de Francisco Cândido Xavier emerge, portanto, de uma relação profunda e misteriosa com um certo modo de sentir do homem brasileiro, relação esta ainda insuficientemente estudada ou conhecida até mesmo pelos que a vivem, comandam ou exercem.
Até mesmo para ele, Francisco, deve haver muita coisa envolta em mistério, um mistério que os seguidores dele tenta definir e enche-se de explicações científicas, religiosas, ou religiosizantes, psicólogas, parapsicológicas ou parapsicologizantes.
Para tal contribui, além do aspecto misterioso da psicografia e da relação com os que morreram, a igualmente misteriosa aura de paz e pacificação que domina os que com ele se relacionam pessoalmente ou via meios de comunicação, na relação cuidada e cautelosa, equilibrada e pouco freqüente por ele mantida com a Televisão, na qual aparece muito pouco, uma vez por ano no máximo e sempre para grandes públicos.
Além da aura de paz e pacificação que parte dele, há outro elemento poderoso a explicar o fascínio e a durabilidade da impressionante figura de comunicação de Francisco Cândido Xavier: a grande seriedade pessoal do médium, a dedicação integral de sua vida aos que sofrem e o desinteresse material absoluto.
A canalização de todo o dinheiro levantado em direitos autorais para as variadíssimas atividades assistenciais espíritas dá ao Chico Xavier uma autoridade moral – tanto maior porque não reivindicada por ele – que o coloca entre os grandes líderes religiosos do nosso tempo.
Quem se aproximar da atividade real de assistência material e espiritual da comunidade espiritualista brasileira, verificará que ela é íntegra e heróica, tal e qual o que há e sempre houve de melhor em assistência de religiões como a Católica e Protestante (entre nós), prodígios de dedicação, silêncio e humildade que justificam as vidas dos que dela participam.

SÍNTESE FINAL:

A integridade pessoal;
A íntima relação de seus seguidores;
A ausência completa de significantes externos;
O contato com o mistério;
A ausência de qualquer forma de violência em sua figura e pregação;
A nenhuma subordinação a hierarquias aprisionantes;
A discrição pessoal;
A nenhuma procura de poder político, temporal ou econômico para o desempenho da própria missão;

As forças originais da organização interna do seu movimento, sem personalismos ou autoritarismos – tudo isso geral uma figura de comunicação de alta força, mistério, empatia e grandeza moral, principalmente se considerarmos que enfrentou e ultrapassou tempos diferentes do atual (no qual o ecumenismo felizmente impôs-se).

Antes, manifestações como as dele eram removidas como bruxaria ou perigosas, ou bárbaras ou alucinantes quaisquer manifestações místico-religiosas diferentes ou discrepantes da religião da classe dominante.


(O Globo, 26.05.1980 – Transcrito do Jornal “Lavoura e Comércio” de Uberaba, Minas, do dia 04 de junho de 1980).