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domingo, 8 de agosto de 2010

A Consciência - muito além da superfície do Eu


Os espíritas devemos nos atentar mais aos atributos da Consciência. Partícula mais íntima de nossa realidade integral, a Consciência é nosso verdadeiro eu - o ‘self’ da Psicologia Transpessoal, nossa verdadeira identidade como espíritos eternos criados por Deus.

A Consciência é, ao mesmo tempo, o início e o fim da nossa identidade espiritual. É nela que estão escritas, de forma indelével, as Leis de Deus, eternas, imutáveis, inexauríveis, como está sentenciado pelos Luminares da Codificação, na resposta número 621 de O Livro dos Espíritos, resposta essa dada ao professor Allan Kardec.

Nós que estamos na casa espírita diariamente, nos esforçando para superar um passado de débitos e construir um futuro de reequilíbrio, colaborando com os propósitos de Jesus, precisamos parar para analisar o que somos de fato. Tentar entender onde está a “pedrinha do nosso sapato”, identificar vícios e virtudes, buscando a superação do primeiro e a dilatação do segundo.

Léon Denis, na magistral obra “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”, livro que em 2009 completa exatos 90 anos de publicação, descortina, em nosso benefício, mais informações sobre a questão da consciência. “A alma é uma emanação, uma partícula do Absoluto”, leciona o filósofo. “Suas vidas têm por objetivo a manifestação cada vez mais grandiosa do que nela há de divino, o aumento do domínio de seus sentidos e energias latentes”.

Para Denis, a ampliação da Consciência pode ser alcançada por processos como a meditação, o conhecimento da Ciência, o trabalho e o exercício da moral. Mas a melhor forma de expansão consciencial é mesmo utilizar todos esses modos de aplicação, juntamente do que Denis considera o mais eficaz: o exame íntimo, a firme vontade de melhorar nossa união com Deus e o desapego das coisas materiais.

Esse processo de auto-análise, tão necessário aos espíritas nos dias contemporâneos, é o que Victor Hugo chava de “olhar o exterior dentro de nós”, ou ainda, inclinarmo-nos sobre “este poço, o nosso espírito”.

Temos que entender, novamente corroborando com Léon Denis, que nossa origem e participação na Natureza Divina, já que somos filhos de Deus, espíritos eternos, explica necessidades que temos na condição de espíritos em evolução - necessidade de infinito, de justiça, de luz, de sondar todos os mistérios, de estancar nossa sede espiritual.

Quantas vezes nos flagramos cabisbaixos ou mesmo às raias de uma depressão, ou de um processo íntimo de desvalorização - por vezes motivados por atuação de obsessores - simplesmente pelo fato de nos depararmos com crises de culpa, sentimentos conflituosos, ansiedade ou autopunição. O fato é que queremos realmente “nos santificar” do dia para a noite. E isso não deixa de ser um atavismo oriundo de nossas concepções religiosas anteriores, que de fato prometiam esta “santificação”, ao externar a premissa “pare de sofrer”, como se o processo do sofrimento pudesse ser extinto por uma “borracha mágica” da divindade, que nos aliviaria de nossos fardos simplesmente por aceitarmos a mensagem cristã. Mas sabemos que não é assim.

Não há “santificação” no processo da maturidade espírita. Deve haver esforço individual, gradual e por certo lento (devido ao nosso livre-arbítrio), para melhorarmos a pouco e pouco. Mas devemos ter a certeza irrefreável que a Consciência, nosso ‘self’, eu mais profundo, está intrinsecamente em nós, e nela, as Leis de Deus. “Sob a superfície do ‘eu’, superfície agitada pelos desejos, esperanças e temores, está o santuário que encerra a Consciência integral, calma, pacífica, serena, princípio da Sabedoria e da Razão, de que a maior parte dos homens só tem conhecimento por surdas impulsões ou vagos reflexos entrevistos”, diz Léon Denis. E se temos um santuário interior, que aloja nossa Consciência, isso é tão somente o cumprimento da assertiva de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando ele afirmou que “o Reino de Deus está dentro de nós”.

Por Juvan de Souza Neto - Editorial do Jornal Espaço Espírita, edição 26.

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